segunda-feira, 29 de novembro de 2010

QUEM NASCEU PRIMEIRO, O ANTES OU O OUTRORA??? - Por Julio C. Gonçalves

Sabe Rodrigo, depois das suas considerações, me pus a pensar sobre as questões por você levantadas... Acho muito pertinente a abordagem e as discussões a esse respeito, porém, acredito que "talves" (com todas as aspas), estas questões sejam impossíveis de serem respondidas. "Impossíveis" (também com todas as aspas), pelo menos no tempo presente, pois estamos vivendo um momento transitório, onde algumas certezas, características e valores estão se transformando ou se tornando obsoletos, mas ainda resistem a este tempo, ao passo que já vislumbramos possibilidades e mudanças em um futuro ainda obscuro a nós,  que não chegou totalmente. Em outras palavras, o passado já não nos diz muito e o futuro ainda está distante de nós. Vários autores tentam nomear esta fase, podemos citar alguns:
  1. Georges Balandier - "Supermodernidade";
  2. Ulrich Beck - "Modernidade Reflexiva";
  3. J. Lyotard - "Pós-modernidade";
  4. Zigmunt Baumam - "Modernidade líquida";
  5. Gilles Lipovertsky - "Tempos hipermodernos",  etc
Com essas várias formas de tentar conceituar esse período transitório, já constatamos a primeira característica deste mesmo período: a incapacidade de gerar consensos. "Como todas as transições são simultaneamente semi-invisíveis e semicegas, é impossível nomear com exatidão a situação atual". (SANTOS, Antonio S. Ribeiro dos. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2001).

Valores e instituições até então considerados firmes e consolidados, há algum tempo começaram a ser questionadas, repensadas, problematizadas, desestruturadas. Um exemplo elucidador desse fenômeno, além da própria Educação, são as próprias mudanças decorrentes da estrutura familiar com que podemos claramente perceber. 
Qual é o modelo de família em nossa sociedade hoje? Fica difícil identificar. 
Acho incrível como acontece a dinâmica social, como a sociedade vai se moldando, se fazendo e se desfazendo, se renovando!
Não precisa fazer nenhum estudo sociológico para percebermos a transição da "família porta-retrato" para uma família nuclear de estruturação diferenciada. 
Estamos falando, não de um, mas de vários modelos de composição familiar, como é o caso das famílias onde os pais são separados, ou a mãe decidiu fazer uma "produção independente" (não gosto deste termo), o pai cria os filhos sozinho, família com dois pais e filhos (ou duas mães), filhos criados pela avó, a família single (composta de pessoas que moram só e se autossustentam) entre outros tantos...
A emancipação feminina, por exemplo, permitiu que a mulher saísse de casa para trabalhar, para tornar mais independente. Ora, a  mãe, em nossa sociedade, representa a base da família. Também as condições financeiras mudaram: antes o salário do marido supria todas as necessidades da casa.
O resultado dessas transformações todas? Os filhos estão indo muito cedo para as escolas, para as creches. Alguns pais não se dão conta de que alienam a educação informal de seus filhos para outros (pois sentem culpa em corrigir os filhos, uma vez que já ficam longe deles muito tempo...). 
O que fazer então? Aspirar os tempos de outrora? Não... a sociedade mudou, os problemas mudaram também.
O que nos resta então? Analisar, estudar, observar e tentar se adaptar à essas novas transformações sem renegar à outras pessoas aquilo que é responsabilidade nossa!
O que percebo claramente nas discussões dos textos que trabalhamos em sala e das discussões que tentamos fazer, é a imensa angústia que nos acomete (enquanto humanidade), pois o que de fato estamos querendo é construir uma experiência no tempo presente e tão somente no tempo presente, uma vez que o passado muitas vezes nos assombra e o futuro ainda nos dá medo.
Ora, como podemos então realizar uma experiência no tempo presente? Segundo Fernando Bárcena (citando Hannah Arent em seu texto "Entre o passado e o futuro"), devemos nos voltar para o passado e nos reconciliar com ele e com as coisas que fizemos de errado e nos satisfazer com as promessas para o futuro, só assim, poderemos viver intensamente o momento. Que momento? Este momento onde a crise parece ser o lugar; onde a dúvida parece não se aquietar com as respostas dadas. 
Por essa razão acredito que seja normal a sensação de que  "a infância está estendida ou o mundo adulto chega precocemente para a criança".




terça-feira, 23 de novembro de 2010

Infância e o mundo adulto

Envolta na discussão sobre mídias e o público infanto-juvenil a partir dos apontamentos dos colegas até aqui expostos que eu destaco, em síntese, como sendo:
  • omissão de responsabilidade das diversas instituições socializadoras (empurra-empurra);
  • necessidade de um “repensar” a prática escolar no caminho de atividades mais comunicativas com os alunos e de desenvolvimento do espírito crítico;
  • sociedade enfaticamente voltada para uma cultura do “ter” em detrimento do “ser”;
  • as mídias mais significativas nas construções simbólicas do que as instituições de ensino.
Apareceu-me um questionamento aparentemente interessante no que diz respeito à infância e o mundo adulto. Temos dois discursos que seguem um raciocino lógico correto e uma argumentação convincente que, no entanto, aparentemente apresentam um paradoxo interessante no qual possa ser relevante refletirmos para o avanço das discussões: enquanto por um lado alertamos para o fato de que a presença das mídias no público infantil esteja tornando difusas as barreiras entre o mundo adulto e infantil (como vimos no texto do Buckingham) culminando numa maturação precoce das crianças, por outro lado argumentamos (também corretamente) que essa influencia midiática esteja estendendo a infância por um período mais prolongado (observação também discutida em aula). Observei tal dissonância principalmente a partir do trecho selecionado pela Danielle e José Eduardo do texto do Buckingham sobre um lazer curricularizado das crianças. Afinal, a infância está estendida ou o mundo adulto chega precocemente para a criança?? Acredito ser um grande ganho para discussão se conseguíssemos conceituar e elucidar em quais pontos estas afirmações se justificam e onde se refutam sobre esta questão aparentemente paradoxal.

Rodrigo Camilo

sábado, 20 de novembro de 2010

O que tem feito a mídia na cabeça de nossas crianças?? (Por: Nair Azevedo)

Assisti ontem na internet o documentário “Criança: a alma do negócio” (disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=dX-ND0G8PRU )  e fiquei espantada como as coisas muitas vezes ocorrem numa proporção que não conseguimos imaginar.
Quando ouvi aquela criança dizendo que ao pedir um determinado produto que viu num comercial de TV, e os pais dizem que não possuem condições financeiras para comprar, e que nesse momento a vontade de chorar é muito grande devido à tristeza de não ter o que pediu, isso me fez pensar no papel em que nós, educadores em geral independentemente da área, temos que desempenhar: tentar fazer reflexões sobre o que as mídias (TV, rádio, internet, etc) dizem às nossas crianças e mais ainda, desenvolver nelas um espírito crítico com relação ao que circula o tempo todo nos meios de comunicação.
Nossa sociedade tem medido as pessoas ao longo desses anos pelo que eles têm e não pelo que elas são. A maior parte dos comerciais o tempo todo nos convence de que, para sermos aceitos, precisamos ter determinada coisa, ou possuir o que está na “ultima moda”. Não é diferente com as crianças. Desde pequenas elas têm absorvido essa ideologia capitalista, onde o “ter” é “poder”. O problema é que muitas crianças não são instruídas para enxergar e reconhecer tal ideologia.
É difícil nesse caso acusar de quem é a culpa: das famílias? Das mídias? Da escola? A verdade é que todos nós já crescemos nesse ambiente onde o comprar é sinônimo de status. Como então mudar de hábitos e principalmente, pensamentos, quando o assunto é consumir?
Mais uma vez acaba sobrando para a escola esse papel. As famílias já estão acostumadas com o pensamento de “ter” cada vez mais, as mídias não estão preocupadas em desenvolver um pensamento crítico e muito pelo contrário, quanto mais se consumir, mais dinheiro elas terão.
Resta a escola, que precisa reconhecer que as mídias influenciam muito a vida das crianças em geral, independente da idade e do ciclo escolar que elas freqüentam. Não é possível mais ignorar tais acontecimentos, pois além de influenciar o consumismo, as mídias são atraentes, fazem com que os jovens passem muito mais tempo nos celulares, computadores e em frente à televisão do que lendo livros, ou perguntando suas dúvidas àquele professor que às vezes não sabe a resposta ou simplesmente está ali para cumprir sua carga horária. Basta atentarmos para comunidades do Orkut como “O Google vai me passar de ano” para testificar o que aqui escrevo.
Portanto, nós educadores não podemos nos fingir de cegos e de indiferentes, pois as mídias estão aí, e ganhando nossas crianças para o capitalismo, para o consumismo, para o sedentarismo, para a falta de socialização... Mas é também necessário reconhecer que as mídias são atraentes. Se soubermos usá-las a nosso favor, em discussões, reflexões e em nossas aulas, poderemos nos aliar a ela. Como podemos usar as mídias em nosso favor? Isso será discutido no próximo tópico em momento futuro.